VERTIGEM

Um lugar escuro me cerca,

onde odores fétidos surgem,

como suores podres e ácidos

e babas passadas e viscosas...

Bichos rastejantes surgem,

imundos, pútricos, nojentos

escarrando pelas paredes purulentas

nas feridas da pele emudecida...

Uma tumba, um mausoléu, uma masmorra?

Está escuro e eu sonolenta e adormecida

despertada pelos sons animalescos da angústia...

Minhas mãos estão amarradas,

minhas pernas acorrentadas,

minha boca amordaçada...

Apenas meus olhos e meu nariz se movem!

Meus olhos abertos que deixaste

de propósito para que eu pudesse te enxergar

e a respiração para te cheirar...

Mas até ela fica suspensa no ar

quando te vejo chegar e não posso te gritar...

Me debato, tento arrancar as correntes,

me esfolo nas paredes imundas

para tentar te chamar a atenção...

Mas tudo em vão e tortura cruel:

me deixaste sem venda para que eu pudesse

ver a tua indiferença, o teu desprezo e o teu prazer...

Ele está estampado no teu sorriso

que fazes questão que eu sinta com os meus olhos!

Respiração! Batimento cardíaco! desespero!

Uma vertigem que se apossa de mim,

loucura de querer me rastejar até ti

como um réptil imundo e inútil!

Sinto vir o desfalecimento, a fraqueza...

Que calor! Um frio gélido percorre dentro de mim...

Permaneço de olhos abertos, estáticos a encarar

teus movimentos cruéis e torturantes

como numa dança macabra de amor

entre vítima e algoz...

Desmaio! Sinto que vou sucumbir

na entrega da indefesa de estar a tua mercê...

Silêncio! Silécio hediondo na escuridão...

Sinto o frio me queimar e a luz se acende

na labareda dentro de mim!

O suor escorre e se mistura ao cheiro

do desejo que escorre entre as pernas...

Sinto escorrer pelas coxas, quente e grudento

e me transformo na cadela sem vergonha

e sem pudor que goza na dor...

Goza para a tua frieza,para a tua indiferença

que escarra um cuspe denso na minha fuça

de animal agonizante por tua tortura...

Choro! Lágrimas que teimam em cair,

quentes e abundantes para tentarem

limpar a cadela imunda que me transformei...

Mas imploro pelo cuspe porque ele

é teu corpo que se esfrega em mim,

é teu afago que acaricia meu gozo...

Meus olhos se fecham e meu coração se abre

na tristeza que me invade, no vazio

sepulcral da tumba que se ilumina...

Ela está repleta de ti!

e é aí que me rendo, abnegada de mim

e gozo na saudade de ti

abatida e erguida no ato do trovão

que ilumina a escuridão

e me invade de ti!

E gozo para ti e por ti e por mim,

o gozo que mata a tristeza

no estupro particular e cúmplice...

Um gozo somente meu e teu!

carline
Enviado por carline em 09/09/2014
Código do texto: T4955387
Classificação de conteúdo: seguro