VOAR...

Escrevo versos que não são muito claros,

para os outros,

porque pra mim são transparentes como cristal.

Eu não era assim,

de tanto cantar cantos que não se canta,

escrevia versos indeléveis.

Nesse frenesi esqueci quanto tempo se leva para fazer

um sonho se realizar.

Éramos eu e a saudade de um tempo que transformava

meu traço em algo recorrente,

e foi aí que percebi que eu sou eterna.

A partir de então fui levada por uma enorme vontade de nunca parar,

caminhar mais e mais,

com isso descobri minha melhores performances.

Acima de tudo que busquei,

buscava silenciar uma vontade enorme de ser. Quando dei por mim,

já estava assim,

sei lá.

Pedi ouvidos e recebi bocas,

muitas vozes,

pessoas interessadas em me fazer chorar a título de me ajudar.

Ninguém me ajudou, caminhei só.

Meu caminho é de pedra e ferro,

duro como diamante sem o seu brilho.

Ah, como eu sofri!

Tentava correr e não me encontrava,

divaguei por ruas vazias.

Estranho, mas eu sempre precisei de um pouco de atenção.

Pequenos pedaços de mim ficaram no caminhos.

Plantei flores,

cuido para que sejam cada dia mais lindas,

mas eu não posso parar,

sigo.

Cada vez que me olhei nos olhos senti saudade de mim,

e quando olhei para trás lá estava eu,

estática.

Chorando?

Talvez.

Mas o tempo não passava de mim,

passava por mim.

Ah, o tempo...

Padrão de coisas sem nexo,

caçador de estrelas perdidas,

de momentos idos sem pretensão de tornarem a ser.

Estava parando de fixar-me,

queria voar,

mas quebraram-me as asas...

Caminho em ruas desertas que não vão me levar a lugar nenhum,

eu passo a passos curtos,

observo cada detalhe,

é que eu ainda não vi o que sempre quis.