A ESPERA
É uma tortura hediondamente cruel
a sensação da espera... não saber
a hora, o quando ou se é vista...
O coração dispara de forma agoniada...
As mãos começam a tremer e o corpo a suar
na expectativa do aparecimento, do chamado,
da atenção tão desejada, tão querida,tão procurada!
Fecho meus olhos e aguardo...
Só escuto o som das batidas do coração
que fica a espreita e se infla de esperança...
Quanto tempo? as horas correm lá fora...
Mas aqui dentro tudo para, tudo é agonia,
tudo é desespero... o algoz se confundindo com o redentor...
Espera insana que me torna lúcida na agonia...
Anda, vem,me chama,eu estou aqui...
Apenas um sinal de vida nesse tempo que galopa...
Meu corpo sente frio,sente fome,sente sede,
meu corpo treme e congela pelo chamado...
Os minutos passam e a solidão me arrebenta!
Se torna amante,amiga, cruel e compassiva...
A ternura que machuca na batida que teima em prosseguir...
Sinto o disparo dessa bomba dionisíaca que se embebeda
de ansiedade sem saber se vens...
Loucura completamente insana e mórbida,
tortura alucinante que me faz suar pelos poros!
Olho para frente aguardando um sinal...
Sinal vermelho, sinal verde,um pisca-pisca...
Minha respiração acelera e sinto frio dentro de mim...
Cada segundo que passa me torna mais atenta e quieta...
Um sinal, um farol, uma atenção...
Terror e êxtase... medo... sensação de vazio total...
Choro! Choro por mim nessa espera que magoa...
Faz me sentir alucinada e animal...
Animal na espreita, animal só sentido, animal irracional...
Me dobro, me quedo,vou diminuindo de tamanho...
Estou dentro do ventre... líquido aminiótico de tensão...
Tento captar no ar a espera para triturá-la...
Mas escorrega, foge,se esconde...
Sinto pontadas no coração e suor nas mãos...
Posso sentir o cheiro do suor escorrendo e ele é doce
e amargo... Que agonia! Não sei mais o que sinto...
Medo, tesão, pranto e eternidade dentro demim...
Em um furacão prestes a explodir por todos oslados...
Onde estão sinal? cadê os sinos tocando?
Por onde anda o sibilar dos pássaros?
Nada, vazio, desespero tomam conta de mim!
Abandono! Vontade de me tocar! Me tocar para sentir
a sensação de gozar na cara da espera!
Esporrar com porra viva a espera cruel
e lambuzá-la com a minha dor e o meu prazer!
Raiva, impotência, amor e ódio e saber
que aqui ficarei alucinada esperando
louca para gritar, espernear, falar que estou aqui
esperando por tua atenção mesmo que não ligues,
mesmo que me ignores,mesmo que não me queiras!
Eu estou aqui e ficarei até quando desejares,
porque a espera me faz te sentir,
me faz ser escárnio da tua vontade,
objeto ridículo do teu prazer!
E assim, na contradição harmoniosa
da confusão dentro de mim,
me torno una, inteira e atenta
com os olhos cheios de lágrimas
na felicidade triste de aguardar
pela eternidade afora o teu chamado cruel
que sentenciará com o que quiseres!