IMPRESSÃO I
Estes dias uma série de fatos me fez
lembrar de Petrópolis e dos meus tempos de
menina: um telefonema da Misé (Maria José
d'Orey Landsberg) para falar da tia Zefa
e dos meus poemas que tanto lhe agradam...
uma revista que peguei num consultório
médico cheia de fotografias da cidade... e,
até mesmo, meu caderno das aulas de
Literatura que, só agora percebí, tem
impresso na parte inferior da capa as
palavras - Pedro II - Petrópolis. Não tinha
como fugir.
Névoa branca - quase um muro.
Difícil enxergar nesse ruço
o que se esconde lá atrás.
Mas o rio está lá,
eu bem sei que ele está,
pulando carniça com as pedras meninas,
namorando as hortências que na beira se inclinam...
Escorrendo moroso no seu leito limoso
no vagar de seguir, sem nunca se apressar.
Quantas vezes o vi e invejei sua graça
a correr junto à praça... sob as pontes pequenas...
percorrendo a cidade em total liberdade
no direito de ir ou, talvez, de ficar.
Aonde eu ia, eu o via. Eu o via e sorria.
Ele ria de volta para mim que entendia
o que, então, me dizia nesse tempo de fadas
em que o tudo era nada, e o nada era tudo.
Já agora, que pena, eu cresci e perdi
o poder de entender a linguagem dos rios,
a linguagem das flores,
a linguagem do mundo.
Só restou em verdade,
uma imensa saudade
... e um desgosto, profundo.
novembro - 1994