GUARDEI DE RECORDAÇÃO...

Meu pai não deixou tesouro

Porque riqueza não tinha,

Mas deixou uma quartinha

E um velho chapéu de couro,

Deixou um cordão de ouro

Que herdou do meu avô,

Esse eu não vendo e nem dou

Nem qu’eu passe precisão.

- Guardei de recordação,

Tudo o que meu pai deixou.

Pai deixou uma capanga

Dele guardar documento,

Os arreios dum jumento

E uma encardida “fianga”

Um gibão sem uma manga

Que, a outra o mato rasgou,

Tudo isso mãe juntou

E eu escondi num surrão.

- Guardei de recordação,

Tudo o que meu pai deixou.

Eu resolvi procurar

O que pai tinha deixado

Achei um pente quebrado

Do velho se pentear.

Também resolvi guardar

O que achei num birô:

Um livro de Mirabeau

E dois folhetos de Cancão,

- Guardei de recordação,

Tudo o que meu pai deixou.

Guardei até uma enxada

Que tinha o cabo quebrado,

Um facão mal amolado

E uma binga enferrujada,

Uma faca embainhada

Que o velho tanto zelou

Se o tempo não os acabou

Estão lá no meu galpão,

- Guardei de recordação,

Tudo o que meu pai deixou.

Encontrei entre as adagas

Uma arma de três postas

E o caderninho das contas,

Mas todas estavam pagas

E prá não esquecer as sagas

Do homem que me gerou,

Tudo o qu’ele me legou

Mantenho em conservação,

- Guardei de recordação,

Tudo o que meu pai deixou.