LIMITE

Quando a dor chega, o tempo para...

cessa o ar e cessa a vontade...

Freia o gesto que fica suspenso no ar...

O pensamento se volta só para a sensação...

O corpo se torna só nervo exposto,

ansioso para terminar o martírio...

É como um moinho de vento rodando mecanicamente...

O vento cessou, estagnou,

mas ele continua a rodar...

ter que sair de si e continuar em meio ao desespero de se doer inteira,

sem poder parar e se isolar...

escuridão apenas e ter que ultrapassar o limite da insanidade

para atingir a sanidade aparente da normalidade...

Ter que pular muros de arrimos e dar murros na ponta da exterioridade

e continuar ultrapassando o que já foi limitado...

atingir o próprio centro da vontade para satisfazer a necessidade...

Conseguir raciocinar em meio a loucura e ser sana em meio a mesma,

tentar a lucidez mórbida e cruel para ultrapassar o pensamento

que mora longe junto ao raio que explode

no quintal da dor e da agonia,

na esquina do desespero que gargalha na cara...

A cabeça roda e gira como uma roda gigante monstruosa...

A alavanca enlouqueceu e disparou...

Como conseguir demonstrar o que sinto?

Como conseguir transbordar na racionalidade?

Colocar em letras o que palavras não alcançam?

O que não entendem e não sentem?

Em meio a dor que massacra,

em meio a alucinação dos fantasmas,

em meio a agonia de querer conseguir...

Humanidade desumana,

mecanicismo e loucura!

Meus dedos batem no teclado a procura do exato...

Onde achá-lo? Como transformá-lo?

Só o corpo sabe o que escrever...

A loucura chega e se pinta de vermelho

e é com ela que vou avante,

é com ela que sujo a tela

com a loucura da minha dor!

É ela quem fala, quem escreve na cor vermelha do meu sangue,

manchando a verdade e desnudando a realidade,

fazendo graça com incautos e ignaros que não sabem de nada!

E é essa dor que jorro, que borro aqui,

essa dor que é real e que me machuca e me enobrece!

Ultrapasso o meu limite possível e escrevo...

Não! não escrevo! porque escrever é racional demais!

Eu jorro e transbordo,

inundo com a minha verdade o espaço em branco

tão estuprado quanto eu!

E nos damos as mãos trêmulas e rodamos mais uma vez o moinho

e nos curvamos e nos quedamos e nos ofertamos,

corajosos e dignos, cansados e felizes,

entregues e altivos, loucos e sanos

nas palavras que se transformam em açougue de carne exposta!

carline
Enviado por carline em 05/09/2014
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