Fado

Me fiz cega pro teu desdém e insensível pro teu desprezo. Agora, vejo e ouço. Hoje, tua musicalidade me grita nos ossos. Me dói. Tu, dionisíaco, cantaste sobre afeto. Tu falou. Assim, incerto, desconexo. Cantaste sobre solidão também. Compreendi, passei a te adorar. Enlouqueci. Pedi afago e tomei um tapa. Implorei teu querer. Ajoelhei, acreditei. Destruí tua fantasia de mim, pois enlouqueci. Me rasguei, me bati. E tu não fez nada, senão assistir. Pois saiba que a dor me apraz, me permite sentir vida. Toda dor me faz viva.

Triste constatação: tua palavra nunca existiu. Tudo que vi e ouvi eram adornos. Você não quis me ver, mas o que viu foi suficiente pra temer. Agora, você nem me ouve. Nega e vira as costas. Em círculos.

Mas eu vou ficar, decorada com grilhões de ingenuidade. Eu vou ficar com um albatroz, de insanidade.