VIOLETA
 
A talha vazia
O leite que não tinha
Nós ainda assim
Tristes caídos
Tráidos num navio
Que vinha matar
Nascidos livres
Rostos ao chão
Colhendo mentiras
Nos trigais dos outros
Cantavamos sonhos
Choradas pela ferida
Lágrimas de vida
Que tinha outra cor
Igual a do vinho
Pingava ao chão
De partidas e idas
Sofrendo poeiras
Em cada caída
Colhendo que íamos
Apenas feridas
Ainda que a talha vazia
Minha menina
Magra se ia
Num buraco qualquer
Ainda hoje se lembra
Sobre “cantos
Sem prantos da pose
De brisa mansa”
Que aquele que não
Cansa
Foi ama santa
Do que feliz
Vive
Na superfície
Branda
Porque é branco
Pelo acaso da vida
E ficamos no canto
Da talha vazia.