PERDÃO

Percorri muitas esquinas bifurcadas

seguindo apenas o som dos ventos

que me mostravam o caminho

que meus pés redemunhavam...

E foram muitos os labirintos

de passos e de vôos

em telhados enforcados

que desatavam meu coração...

O vento me sussurrava

para seguir mergulhando

e entrava nas casas

e descobria os abrigos...

Ergui as minhas mãos

e peguei no ar o vento

e coloquei-o como um macho

dentro do meu ar vivente...

Adquiri vida no ar

que me mergulhou no desejo

de saber a quem vim

e saber para onde vou...

Mas hoje sinto frio

e um vazio imenso me abarca...

Meu coração esfarela

nos perdidos grãos do deserto...

Tártaro e secura me compõem

na tristeza que faz amor comigo

comungando o verbo dador

e da permuta do sentido...

Doação na esquina da chegada

e humilhação no atalho da saída...

O vento me carrega na maresia

na morte que me engolfa e acalenta...

Mergulho no afogamento

e me sufoco com a dor

que me chicoteia e me mata

sem piedade e compaixão...

E morro cada vez mais,

aos poucos, passo a passo,

com requinte macabro

da crueldade da frieza...

Me misturo ao lado

dos cheiros que me provocam...

Ergo os braços a procura de salvação...

Os ventos me levam à solidão

de me saber só na tristeza

que me estupra a esperança

de se saber vã na ambiguidade

de ser e não ser o que se é...

Procuro ar e salvação

na morte morrida do coração...

Estou com frio,muito frio

na alma vazia que me encontro...

E morro mais uma vez

para tentar renascer em mim

na escatologia do que sou

alcançando a cosmogonia do que tu és...

O vento queria me levar a ti

e o segui sem hesitação...

Mas hoje estou morrendo

na tristeza de não te alcançar...

E peço perdão na humildade

da oração da ternura

por não bastar ao oceano

e me afogar no vento...

Só queria erguer as mãos e poder,

com força, segurar as tuas...

Na força do vento que me levou

e levantou a poeira do meu amor...

E peço perdão outra vez

por ter me rastejado tanto,

por ter me humilhado tanto

e mesmo assim pouco...

Peço perdão por meu amor

e pela vontade louca de servir

a quem me serviu de abrigo...

Peço perdão por não ter alcançado

a perfeição do que mereces...

carline
Enviado por carline em 03/09/2014
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