A VÍRGULA

Amor tranquilo, Cazuza?

Bobagem.

O mundo é podre, poeta.

A gente é careta e covarde mesmo,

a gente é lixo, a gente é vômito,

o resto do que um dia

pensamos que seríamos.

A vírgula do mundo,

intrometida entre um sujeito cretino

e um verbo idiota,

que enumera substantivos inúteis,

que separa a vida da morte,

o perdão da forca.

A gente é a sobra.

A gente é a crise, a falha.

A gente é o que o nada,

na sua insignificância,

nunca se atreveu a ser.