Mãe Infértil
Era infértil mesmo, pois anjos não podem ter filhos.
As polarizações são burras,
as entranhas são canções de ninar,
cantadas por mães sedentas por filhos.
A radioatividade impôs futuros,
A tecnologia, violentamente, impôs ações;
órgãos aumentaram de tamanho,
o trabalho era árduo,
mas a ciência não trazia notícias bem-aventuradas.
A rigidez invocava revolta involuntária
A sobriedade invocava a escassez de neurônios.
As virgens rezavam,
pedindo sonhos para a outra Virgem.
E o fluxo fluía,
redundante,
assim,
como quem não quer nada,
fluía,
feito água no mar,
feito pipas voando por cima dos prédios cinzas,
feito amor juvenil da 5ª série.
Maria Joaquina, bem sabia,
Tinha ciência mesmo,
de que amar é que era difícil,
o restante:
-Só caprichos.
-Chorar adianta de que?
Com o passar do tempo;
Vento, chuva, sol, noite, dia,
Foi deixando de ter esperança na ciência,
Adotou três molequinhos:
Zé, Pedro e Luan.
Já velha,
com os meninos criados,
pensou:
"E não é que valeu a pena?"
"Filhos vêm da alma",
Maria, finalmente,
havia entendido,
Abriu um sorriso,
deu seu último suspiro
e morreu.