RITUAL
Um templo... Mea culpa! Gritam os crentes! Sim... Mea Culpa grito
eu... As vozes me aproximam desse templo... Vozes que cantam em
uníssono... Me chamando... Abro a porta gigantesca do templo e
deparo-me com uma liturgia... Olho para frente e vejo a ceia para ser
servida... A mesa ainda está vazia... Apenas uma toalha de cetim
vermelha a recobre... monges encapuçados a sua volta e os fiéis
cantando o mea culpa...
Ajoelho-me em devoção e respeito... Aquela voz me chama... Me move ao
encontro do que sei que será a minha redenção...
Aproximam-se de mim... Os monges...Formam um círculo a minha volta
para que eu não possa fugir do meu destino... Fecho os olhos e só ouço
barulho de correntes se aproximarem do meu corpo...Minhas vestes são
rasgadas e arrancadas do meu corpo e um aço metálico, frio, gelado é
colocado no meu pulso... meu olhos permanecem fechados...meu coração
dispara... Agora são meus tornozelos... frio...Minha cabeça é
erguida...Algo no meu pescoço...Uma corrente écolocada... O hino
continua...mea Culpa,mea Culpa,mea Culpa... A música me invade cantada
por várias vozes masculinas que se aproximam do meu ouvido... Gemo e
arfo para mim mesma... Vem! Vem conosco! Sinto me dizerem... E sou
arrastada para algo que nãosei ainda o que é... Mea Culpa! De quatro
estou sendo arrastada por um corredor comprido...Nua,acorrentada, de
quatro... Por várias mãos me puxando a um encontro... Chego ao meu
destino... Mea Culpa! meus olhos são abertos por mãos suaves... Vejo o
contorno de um corpo recoberto por um véu preto transparente... Me
Culpa, ela canta ao meu ouvido... E me levanta e me pega pelas mãos e
me leva ao altar que me espera... A mesa é de mármore, mas ol ençol
suaviza a sua frieza... Vejo o seu sorriso e o seu olhar... E suas
mãos a me acorrentarem de novo... Suas mãos percorrem meu corpo ponta
aponta com uma suavidade que me deixa louca... De repente...Puxa-me
pelos cabelos e me traz próxima a sua face... Mea Culpa! Diz a queima
roupa só para que eu escute:
"Cadela ordinária! Serás minha! agora!"Mea Culpa! pega o cálice
sagrado e derrama-o sobre mim... Pega a hóstia e recobre minha pele...
O crucifixo é arrancado da parede e colocado sobre mim pelas tuas
mãos...Tu me beberás,me comerás e me batizarás...Mea Culpa... venda-me
os olhos... Amordaça-me a boca... A música cresce... O coro se
aproxima... A hora é chegada... Sou tua! Toma-me! Vem!macula-me! teu
véu desce sobre mim... Pegas o crucifixo e me exorciza... Agora!
Renda-me aos teus desejos! O crucifixo na mão... Passa-o sobre meus
seios... Passa-o sobre minha pele... Passa-o sobre meu ventre... Eu
quero gritar, mas não posso! Aproxima-o do meu desejo... Abre minhas
coxas... Mea Culpa! Enterra-o em mim... Na minha alma...E eu jorro!
Meu sangue é meu gozo! meu gozo para aquela que me toma e me tem!
Transforma-te em meu Cristo! Aquela que me redime dos pecados do mundo
e me ensina a amoralidade da existência! Mea Culpa! Sim!Mea Culpa, mea
máxima culpa! Assim seja!