ANDROGINIA
Uma meia luz... Uma penumbra...
Brumas esvoaçando como véus
no ambiente lusco-fusco da vastidão...
Paredes de vidro... foscos... cristalinos...
um sussurro escorregadio como a neve
que transpassa o som dos estilhaços...
Um leque se abre... sombras...
Cetim cobrindo um corpo arfante
no meio do holofote apagado
pelos sinais do semáforo que se acende...
Vermelho no suor que escorre da maquiagem
suave e carregada pela possibilidade...
Passos esvoaçantes no movimento voado,
suave e brusco da chegada da sombra...
Contorno do corpo não identificável...
Apenas o olhar brilhante e ofuscante
misturado ao sorriso sensual
de uma pele lustrosa...
Eroticidade no ar sufocado...
Música lenta que toca no coração
dos passos miúdos que chegam
arrebentando o silêncio na expectativa...
Apenas uma alma não masculina, não feminina
gemendo na penumbra da sala...
Dança pelos arredores na sensualidade
de abraçar, de tocar corpos presentes...
boca sedenta pelo beijo ansiado...
Quem será? Quem será que chega
travestido de emoção, revestido de desejo...
Dor e prazer, noite e dia,ambiguidade...
É só a tensão no ar rarefeito
que desperta os instintos dos presentes ausentes
que desejam o corpo, desejam a alma
nessa comunhão do côncavo e do convexo
e do preto e do branco e do ódio e do amor...
É só uma alma vestida de pele
provocando arrepios insanos
na profanação santificada de cada um...
Fusão do nada e do tudo na
redenção do vazio do centro
do equilíbrio dinâmico do Universo...
Aproximação abissal da essência
entregue ao que é e ao que não é
na ponte da vida que jorra morte
do renascimento da manhã...
Venham, confundam-se, entreguem-se
na harmonia celestial de não saberem
e desejarem apenas o que os olhos não vêem
porque é o coração que grita
nesse encontro fatal e essencial
de viver todas as possibilidades
em meio a ambiguidade andrógina de nossas almas...