A FACE NO ESPELHO
A FACE NO ESPELHO
Era sombra,
era véu...
efígie imponderável,
disfarce sutil,
refração enganosa.
Defrontada ao espelho
dissipando-se o véu,
revelou-se concreta,
nítida, a imagem;
Uma face afinal...
Todavia inquietante,
furtiva,
indecifrável,
intocável, mutante...
Na clausura do espelho
a efigie se revela
consubstancial,
autêntica, verás,
sem disfarce ou mistério.
Passos surdos no chão,
gestos leves, cautela!
detenha-se a brisa
ao nível da janela;
e que nesse recinto
nada ouse vibrar...
Buscando resguardar
essa face enganosa
exijo de mim mesma
atenção primorosa:
atenho minha voz
a um raro murmurar;
se num certo momento
num incauto movimento,
... se por distração
o espelho se quebrar...?