MÍSERO
 
Se inflamam as ruas
acesas
toda noite
tem um brilho chamã
que envolve
uma donzela perdida
aos olhos ateus
convida a esperança
perdida a reinar
sobe devagar
pra que seu salto
seja sentido
pelo baixo caído
que tem um amor
resolvido
e morto consigo
então fraqueja
diante da beleza
que é cara
de um rosto vendido
sem máscara
lhe torna ofendido
o defensor da conquista
lhe entrega
as armas
qual delas não quer
prefira então a mulher
que outros tantos
tem fome
morre de nome
sem sina
aos bares sobra
o que cobra
o observador faminto
o que ela levou
deixou p’ra tras
o que ele buscará
n’outro dia
jogaram sua ruína
numa mesa vazia
nenhuma carta ganha
só a façanha
dos eruditos de mármore
como a árvore sombreia
sem frutos
onde o resoluto
dorme
vendendo um teatro estranho
as vozes do caminho
imitam o destino
logo adiante
se põe a cantar
porque o solito
é um pássaro solto
nosso futuro
“templos secretos
de epicuro
abrigam também cruzes”
“sísifo senta de tarde
sobre a queda”
há uma chama que arde
mas não fala...