SOB O CÉU DE AGOSTO
Agosto desgosto, "mês do cachorro louco"
Em meu peito, entalado um grito rouco
De animal preso mal tratado
Vivemos nossas vidas de inseto
Como insetos é que vivemos a vida
Vivemos nossas vidas de formiga
De mosca, barata e verme
Movemo-nos como moscas encaloradas
sob a ardência do sol e do desespero
enquanto vemos as promessas de janeiro
naufragando no oceano dos dias
De repente, o ano passou
e os sonhos desfizeram-se em pó
inclemente o fogo dos dias consome
E nós, num relance percebemos
Que estamos novamente sós
E ao redor, o desvario, o desalento
ao vento, como moscas, perambulamos
ávidas, cegas, aflitas, desorientadas
Somos multidão. Somos, da terra, a praga!
Nuvens de moscas, formigas e larvas
Sob o fogo do sol morrendo queimadas
Nas ruas, o suor encharcando a camisa
O cansaço repisa no peito a ferida
Agarramo-nos em filetes de vida
Sob o sol inclemente a alma agoniza