Exercício poético nos braços de versos de Neruda
Querer (Pablo Neruda)
Não te quero senão porque te quero
E de querer-te a não querer-te chego
E de esperar-te quando não te espero
Passa meu coração do frio ao fogo.
Te quero só porque a ti te quero,
Te odeio sem fim, e odiando-te rogo,
E a medida de meu amor viageiro
É não ver-te e amar-te como um cego.
Talvez consumirá a luz de janeiro
Seu raio cruel, meu coração inteiro,
Roubando-me a chave do sossego.
Nesta história só eu morro
E morrerei de amor porque te quero,
Porque te quero, amor, a sangue e a fogo.
***
Não querer (Tânia Meneses)
Como não sei o que é querer a sangue e a fogo
Faço em mim a geleira e mais nada
E morrerei para viver o segredo do Universo
Sem querer, todavia, como se recomenda querer
As chaves eu darei para que as portas abram
E assim possam ver o que me foi roubado
Querendo eu vejo como a águia
Tomo a medida e o cálculo faço
Do voo sobre o precipício
Como o ofício da matemática
E dessa forma eu atravesso
Asas abertas sobre o perigo
E morro de amor desde o ponto mais alto da montanha
Até o lago no vale
E de lá retorno para o meu abrigo