TRAVESSIA
(Sócrates Di Lima)

Ao longe eu olho para você...
Seu olhar perdido,
Seus lábios pintados,
Do rouge carmim...
Ao longe eu fito teu pensamento,
que divaga,
apaga...
os meus!
Atravesso meu portal,
como quem não tem corpo,
nem alma,
tem apenas pensamentos,
imagens...
miragens...
E na travessia de mim,
redobro meus descuidados,
tomo-me em asas transparentes,
sem nada e sem ninguém...
Sou pássaro de vidro,
Um cravo de papél...
Um barco sem velas,
Em um mar de titãs...
Mas, faço-me um beija-flor,
Procuro nos livros,
registros dos meus amores,
encontro páginas vazias,
só rumores....
só semblantes,
silhuetas de uma flor!
Então, rendo-me aos seus encantos,
formados na minha mente,
Atravesso meus ancestrais,
Como se nunca tivessem entrado em  meus quintais,
nem fragmentados meus cristais...
Que o tempo na sua angustia,
Moveram meus sonhos passados,
E infiltraram na minha mente,
Os sonhos que não sonhei.
E quando soam os clarins da saudade,
Dos tempos que eu era mais louco,
Revigoram minas vontades,
Como quem tece asas de cera,
Em voos impossíveis...
E só caio na real,
quando bate um querer letal,
De nunca ter partido,
nem tomado impulso,
Para sair apressado,
na travessia,
do ventre de minha mãe.
Mas, como aqui estou,
sinto-me como um cravo solto,
perdido,
refletido,
nas águas claras do meu insano mar.
Socrates Di Lima
Enviado por Socrates Di Lima em 27/08/2014
Reeditado em 31/08/2014
Código do texto: T4939178
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