RETRATOS DO FIM
(Sócrates Di Lima)
Foste talvez protótipo do amor,
Em tons plastificados,
Numerados,
criptografados,
em códigos de barra
nas gôndolas da vida.
No tempo,
nos amores que partiram...
Foste amiga,
Querida,
Em tons mesclados,
ranhuras da vida,
Desejos enamorados...
Foste perversa,
Que sentastes sobre o amor,
E sem constrovérsia,
Desfolhastes á mão, a flor...
E quando chegou o outono,
Tuas folhas desapegaram,
Como quem desapega dos sonhos...
Caindo-se na relva fria do inverno.
Foste amante,
Nos sonhos voluptuosos,
Que nos gritos insacioáveis,
Teus descontroles fizeram os remorsos..
Do não ter...
Do não possuir,
Do não seguir adiante.
Sem os sonhos,
remeto-me aos ventos,
e deixo-me ser levados nas tempestades,
Como folhas secas ao relento.
Foste então a vilã...
Fragmentastes meu coração,
E por mais que deito-me ao divã
A loucura não me sacia não...!
Nem me vicia,
Mas, me deixa com a boca seca,
rachada como terra infértil,
suplicando água...
Como quem suplica o amor,
como se fosse sua ultima fonte,
que saciaria a vontade de amar...
Derramaste o cálice da bebida mais santa,
Que eu desejei,
mas não mergulhei minha lingua,
no sulco do teu prazer,
nem pude fazer minha glória,
no êxtase dos espasmos sagrados,
de um amor frenético,
talvez poético,
talvez lirico,
talvez lúdico...
Um amor de todas as estações.
Foste minha poesia,
minhas canções de nostalgias,
minhas iras,
minhas gargalhadas,
minhas dores,
minha carne navalhada,
cujos restos mortais ficaram nas estradas,
que nunca percorri.
Foste a vida que ramificou em meu corpo,
mas também as sombras da morte,
que rondou minha alma,
Nas sobras das minha querências inuteis...
Enfim, foste embora...
Nem disseste-me adeus...
Só um olhar fúnebre,
que se findou nas curvas dos meus olhos,
E nunca mais voltou,
Nem para pegar o que foi teu,
O amor que dentro de mim,
ainda, não morreu.
E no rascunho do teu retrato,
que ficou no espelho da minha memória,
Foste, então, sem nunca ter sido,
e partiste sem nunca ter-se ido.
E na travessia do tempo,
sinto que fomos apenas retratos,
pintados,
numa tela de cores mescladas,
mas que nada,
revela o tanto amor,
sem pudor
com viscerál ardor,
que eu inocentemente te dei
Ai então,
nas suas fraquezas humanas,
nas suas proprias insuportabilidade,
Descuidou-se,
e no ócio das suas próprias dores,
Sem lembranças,
sozinha morreu.
E levou consigo,
todas as incertezas
que eu sabia,
e que só hoje,
pude të-las.