DOCE DELEITE
O dia amanheceu chuvoso!
Doce deleite de sentir
o sentimento sentido
dos pingos que escorrem!
Coração em disparada
no tic-tac do tambor
que engatilha a tempestade
desabando no oceano...
Os pingos caem
e escorregam pela vidraça
como uma máquina fotográfica
com seu flasch cruel...
As ondas tumultuam
raivosas, airosas...
A maresia adormecida
do coração em despertar...
Movimento incessante
de descobrir, redescobrir
desejos, libidos, intenções
implodidas nas entranhas...
A chuva cai
e o pingo se entrega
na descida ligeira...
Vertigem da queda!
O pingo cai,
jorra o medo para fora
e deságua no oceano
das águas profundas...
Como um cego, mergulha,
se debate,se ergue...
Procura a respiração
engalfinhada da solidão...
Se mistura a criação
morrendo a cada segundo...
Se curva a superioridade
do criador que o supera...
Doce deleite da entrega
de se saber nada
e se transformar em tudo
nos braços do criador...
Implosão que explode
na escuridão do atalho
e no mergulho desejado
do coração disparado...
O dia amanheceu chuvoso
e o renascimento acontece...
Chove fera,longe
lavando a morte de dentro...
Queda-se nas águas...
Transforma-se nas águas...
Na chuva da lágrima
que me transforma em Ti...