AINDA SABES ?

-Sabes aquele espaço sombrio,

dentro de ti, reservado,

aquele cofre de paredes grossas

e chaves gastas, para onde sopras,

em murmúrios de angústias,

palavras indizíveis aos outros ?

-Sabes aquele recanto escondido,

lá no teu fundo mais ermo,

onde raios de um luar antigo

iluminam tuas lembranças,

e acalentam memórias tácteis

do que nunca vai chegar a ser ?

-Sabes aquele cheiro azul,

dos dias lindos de outrora,

quando caminhávamos

por entre flores sem idade,

em intermináveis tardes

guardadas em aguarela?

-E aquele sabor único,

depois dos beijos

que fingíamos roubar,

sempre entre medos e segredos,

palmas das mãos molhadas

e peitos arfando de paixão ?

-E aquela vez fundamental,

quando perdemos receios

que, afinal, não tínhamos,

e ousamos gestos íntimos

em acordes breves

de suave coincidência...?

-Lembras ?

É bom, que lembres!

Que saibas ainda, de toadas

e canções rimadas,

de alegres melodias,

e das danças em pontas

que acompanharam

o fim da nossa inocência.

È bom que saibas, também,

como sempre soubemos

todas as coisas, sempre,

que um dia lembraremos

em acordes de um fado triste,

ou de um pranto emocionado,

os tempos difíceis

do nosso futuro, inacabado...

19/5/2007