Ha marcas que sobrevivem
e superam o próprio o tempo.
prova disso é o exemplo
de uma cruz enferrujada,
com a coroa pendurada
resistindo ao relento,
que balançando  ao vento
vai batendo, vai batendo
 
Lembro, e como lembro !
era um bolicho de esquina
hoje, posto de gasolina.
mas na estrada  doutro lado
o lugar foi preservado
a pedido da família
como um recanto pra vigília
e ali ficou demarcado.
 
Mais que uma cruz é uma marca
de um triste fato ocorrido
por muitos talvez já esquecido
mas eu, eu  jamais vou esquecer
eu vi, não tinha como não ver
e vi tudo do inicio ao fim.
lembro tim tim por tim tim
e ainda dói só em reviver
 
Faz tempo, eu ainda guri
Num agosto de garoa fina
aqui  nesta mesma esquina
era uma manhã de domingo
quando chegou o tal gringo
peão da estância São Gonçalo
depois de esbarrar o cavalo
apeou num salto ainda rindo.
 
Entrou,  e atirou pras costas
um velho poncho encharcado
e num tom bem debochado
pediu ao dono do bolicho
- uma canha, bem no capricho
a mais pura do alambique !
aguçando em nós um palpite
que ele queria bochincho.

De vereda se previu
que  o "tempo iria fechar"
- bota mais uma, vou pagar,
não há china pobre onde eu ande
e nem macho que me mande.
Aquilo foi mais que um desafio,
e não houve quem ouviu    
que não lhe fervesse o sangue.
 
Mas ninguém quis se incomodar,
e isso empolgou o "valentão",
foi até a ponta do balcão
onde um rapaz bebia quieto
talvez  fosse um seu desafeto
de alguma andança furdunça
e louco por uma bagunça
ficou lhe encarando de perto
 
- Não sujo faca por pouco, disse o moço
por favor me veja a conta.
E o  gringo tomou como afronta
se botou já de adaga na mão
e o bolicheiro sai do balcão
só para apartar o entrevero
porém o golpe certeiro
impediu o êxito da ação.
 
Cambaleou até a porta
depois tombou derradeiro
assim meu pai bolicheiro
golpeado estupidamente
morreu ali na minha frente
sem que eu pudesse impedir
nem vi o gringo fugir,
foi tudo tão de repente.
 
E hoje ao retornar aqui
Tiro o chapéu, junto ao peito
Num gesto de puro respeito
À tua memória simbolizada
Nesta cruz ao relento plantada
Com a coroa atada com tento
e te escuto no sopro do vento
Que vai batendo, vai batendo.
Cesar Tomazzini
Enviado por Cesar Tomazzini em 24/08/2014
Reeditado em 24/08/2014
Código do texto: T4935729
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