De Quando o Sol se Vai Deixando Saudade
Na cadeira da varanda
sozinho; e o pôr do sol lindo
descerrando os véus da escuridão;
da janela corre um som do Uriah Heep
e a árvore enraizada na calçada
me olha, trocamos olhares,
ouço um farfalhar de uma pomba-rola
se ajeitando no ninho, com o marido;
enquanto ainda há um resquício de luz
natural, mas na luz da lâmpada
mariposas se achegam alucinadas
perfiladas em um bailado de morte
que vem sorrateira fulminando iluminada.
Na cadeira da varanda o crepúsculo
comigo; e o pôr do sol de foi
deixando uma angústia nas plantas
do jardim... Jardim de flores e letras
enterradas, enraizadas, nas profundezas
de um pensamento que é o silêncio
da música que cessou um instante,
cessaram os pássaros, acordaram os grilos
e no campanário das almas treze sinos
soam um som oco, que preenche o momento
que é perfeito, imperfeito; desnorteia
quando lembra da saudade que se demora
e adormece no brilho da primeira estrela.