Matizes
Há sempre um assombro entre meus olhos.
Há sempre um espanto nos meus ouvidos.
O fim do dia me põe de joelhos.
Quedo-me e silencio.
Lá onde a vista se alonga
há uma pintura abstrata,
vermelhos e purpúreos,
claros alaranjados.
Uma mão divina caprichou nas pinceladas!
Inquietas formas e sombras,
colisão entre céu e serras
árvores e terra.
Na penumbra, verdes e cinzas se completam.
E no caminho, uma árvore solitária
finca raizes no árido chão.
Um dia contarão a sua história!
Indiferentes pássaros fazem a sua revoada,
quase noturna, quase soturna.
A natureza reverbera os seus matizes
beleza e pranto se confundem.
Penso nos avessos do cotidiano
caminhos de pedras e flores
recortes e contrastes
afetos e saudade.
Não sei se a natureza chora ao despedir-se do dia.
Seria um festim da noite para alumiar as dores
desertadas entre faces e risos?
A minh'alma reparte-se sublimando o dia.
Recolhe-se a fala e, quieta, dorme.
Imperativo calar!
Atrás dos montes um gigante acomoda-se
logo sera noite e a lua , de fases, esconde-se.
Será que verei estrelas nos meus descaminhos?