atravessei desertos

atravessei desertos

com pés descalços e com alma nua

sentindo frio

com a lama engasgada no peito

e o fel na garganta

que escorria riachos de lágrimas por entre os dedos do meu tempo sagrado

e minhas ventas assopravam fogo

e labaredas congeladas sem artifícios

e nas miragens secretas dos meus desertos

andei sem coragem

e quase sucumbir...

escalei momentos de aragens tristes!!!

e nas tormentas quase ateu me tornei

diante dos abismos sorrateiros

me mirei num espelho com as cores da ferrugem nas emgrenagens múltiplas esfarrapadas

e fui ao chão, cuspir vermes

estrumes, engolir vômitos

dos sobejos das noites ingratas inexatas

e dos fracassos inertes

sobrepus horizontes estéreis

nas orgias das sinas

que em mim se desdobravam

com em crina de cavalos doidos

a vida se incrusta

na teimosia oriunda, vagabunda, sisuda

e bastarda

e ainda me arrepio com os medos que sem segredos se desdobram em meus caminhos

como fantasmas com sua silhuetas vagas e pichadas

do limiar quebradiço

em minhas estradas sugismundas

das maquiagens e depravações

sossegadas

nessa miríade de tormentos cinzentos

sujos curvos turvos

sombrios imundos vagabundos

sem umbigos e sem úberes

mas com as incertezas despoéticas

que habitam os Saaras sem fins

Raimundo Carvalho
Enviado por Raimundo Carvalho em 20/08/2014
Código do texto: T4930762
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