92 degrees
eram acordes
ensurdecedores
pesados
& tão rápidos
(senhores músicos,
- brincou um colega -
o que é essa pressa,
para o quê estão
atrasados?)
o calor, putz, o calor
era de deixar com inveja
o sahara
& aquela gata
puro gin com sonho
dançando como jamais dançara
eu, babando, tonto
só de vê-la rodopiar
até que ela me viu
e berrou um oi!
antes de, meu rosto
depois, minha boca
e, até, o meu pescoço
lambuzar
perguntou se eu a achava muito chata
e começou a rir, pedindo desculpas
dizendo que achava muito louca
a música dos caras
mas que, no dia seguinte
estaria no poço
e não lembraria de uma nota sequer
que era rara a canção
que a tocava
que era boa ouvinte
mas só curtia
depeche...
outra garota chegou, caaaara!,
me abraçou
& a gata mostrou as garras
em um pulo
grudando nos cabelos da guria
mas bateu com a cabeça no chão
desmaiou
e eu tive de levá-la para fora
já melhor,
ela não queria ir para casa
eu também não queria ir embora
ficamos conversando, na praça
a vinte e nove
ela foi voltando do porre
caímos no silêncio
(tirando os zumbidos
nos nós
dos ouvidos)
ela disse me abraça
disse que o amor nunca morre
que a manhã seria de belobelo céu
que, no horizonte, seríamos reis
e outras coisas que não diria
se fosse outro
o dia
pouco depois das seis
a coloquei no ônibus
o jardim social/batel
que já estava saindo
quando derrubou o valetransporte
o peguei, o ajeitei em sua mão
ela evitou me olhar nos olhos
pois os dela já estavam
sem razão
então, entrou
quase subindo no cobrador
para colocar a cabeça
para fora da janela
gritar o meu nome
gritar que seria forte
gritar, gritar & gritar
que iria me escrever
& para afirmar
que seus pais erraram
seus, pais, erraram
pois eles, naquela semana
conseguiram os vistos
& os estados unidos
nos separaram
...
dias depois
ela já lá
voltei ao 92
uma noite até bacana
acho que era show
dos acústicos
& valvulados
alguém perguntou por ela
e aquela doida, como está?
melhor agora, respondi
(espero, pensei)
mas carta alguma jamais recebi
agora, dez anos depois
daquele ano
tão desesperado
soube que ela nem chegou aos dezoito
: em noventa & quatro
a meningite a levou
para o outro lado
&, aquele calor
novamente senti
as febres viraram contos
o pesadelo virou um fato
os pais dela
estavam errados
como sempre estiveram
por sonhar
só no final
não sei
não sei mesmo
o que teria sido
mas hoje,
hoje,
como no início
da música da Siouxsie,
o dia não passou
quando,
passou bem devagar
feito animal
ferido
11/04/2002
eram acordes
ensurdecedores
pesados
& tão rápidos
(senhores músicos,
- brincou um colega -
o que é essa pressa,
para o quê estão
atrasados?)
o calor, putz, o calor
era de deixar com inveja
o sahara
& aquela gata
puro gin com sonho
dançando como jamais dançara
eu, babando, tonto
só de vê-la rodopiar
até que ela me viu
e berrou um oi!
antes de, meu rosto
depois, minha boca
e, até, o meu pescoço
lambuzar
perguntou se eu a achava muito chata
e começou a rir, pedindo desculpas
dizendo que achava muito louca
a música dos caras
mas que, no dia seguinte
estaria no poço
e não lembraria de uma nota sequer
que era rara a canção
que a tocava
que era boa ouvinte
mas só curtia
depeche...
outra garota chegou, caaaara!,
me abraçou
& a gata mostrou as garras
em um pulo
grudando nos cabelos da guria
mas bateu com a cabeça no chão
desmaiou
e eu tive de levá-la para fora
já melhor,
ela não queria ir para casa
eu também não queria ir embora
ficamos conversando, na praça
a vinte e nove
ela foi voltando do porre
caímos no silêncio
(tirando os zumbidos
nos nós
dos ouvidos)
ela disse me abraça
disse que o amor nunca morre
que a manhã seria de belobelo céu
que, no horizonte, seríamos reis
e outras coisas que não diria
se fosse outro
o dia
pouco depois das seis
a coloquei no ônibus
o jardim social/batel
que já estava saindo
quando derrubou o valetransporte
o peguei, o ajeitei em sua mão
ela evitou me olhar nos olhos
pois os dela já estavam
sem razão
então, entrou
quase subindo no cobrador
para colocar a cabeça
para fora da janela
gritar o meu nome
gritar que seria forte
gritar, gritar & gritar
que iria me escrever
& para afirmar
que seus pais erraram
seus, pais, erraram
pois eles, naquela semana
conseguiram os vistos
& os estados unidos
nos separaram
...
dias depois
ela já lá
voltei ao 92
uma noite até bacana
acho que era show
dos acústicos
& valvulados
alguém perguntou por ela
e aquela doida, como está?
melhor agora, respondi
(espero, pensei)
mas carta alguma jamais recebi
agora, dez anos depois
daquele ano
tão desesperado
soube que ela nem chegou aos dezoito
: em noventa & quatro
a meningite a levou
para o outro lado
&, aquele calor
novamente senti
as febres viraram contos
o pesadelo virou um fato
os pais dela
estavam errados
como sempre estiveram
por sonhar
só no final
não sei
não sei mesmo
o que teria sido
mas hoje,
hoje,
como no início
da música da Siouxsie,
o dia não passou
quando,
passou bem devagar
feito animal
ferido
11/04/2002