DEVANEIO

Você me viu quando eu passei,

alguém me viu?

Semeava círculos em torno de mim mesma,

estava querendo um pouco de atenção.

Eu descreveria um mito,

um mundo,

mas não sei de mim.

Estou só,

não me entrego facilmente.

A prova de que não fui é minha presença impactando o momento.

E eu que nem sabia de nada,

fiquei à mercê dos meus dias cinzentos.

Ai de mim que sou só mais um grão de areia

ou algo que o valha.

Ao invés de desperdiçar pensamentos com ideias vãs,

me inclino a ouvir o barulho da chuva

que nada mais é do que meu próprio grito.

só tenho uma caneta e um papel,

por isso mesmo vou me aclamar,

sem medo do que um dia eu fui ou vou ser.

Quem sabe nesse momento de liberdade tudo volte ao normal

e eu volte a entender o barulho do vento?

Eu,

algoz de mim mesma,

não sei dizer se é verdade

ou se não passa de mero devaneio.

É que descrever-se é muito complexo,

não quero me atrever a ser uma pergunta

em qualquer parte do todo.

E, se eu partir, não se esqueçam de dizer a todos que estive aqui...