DESPIR
Calem a boca!
Nem um pio! Silêncio!
Eu me dispo da verdade...
Por que me olham todos?
Por acaso sou digna de pena?
Sentem piedade,misericórdia?
Calem a boca seus idiotas,
covardes, rebanhos da verdade!
Eu já disse que me dispo da verdade...
Olhem meus olhos...
Estão vermelhos, não?
Será de ira,de ódio?
Já disse para calarem a boca
e não se aproximarem...
Eu me dispo da verdade...
Meus olhos choram por vocês
tão curiosos da dor alheia...
Meus olhos são escárnio
pela podridão das suas mansuetudes...
Abram as narinas e sintam
o ar fétido que exala de mim...
É o cheiro da essência...
Eu me dispo da verdade
e desvendo os arranhões...
Peguem os bisturis
e me destrinchem nas entranhas...
Arranquem as tripas, as artérias,
façam esguichar o sangue quente
nas suas caras imundas!
Peguem minhas veias trêmulas
e as engulam nas suas goelas...
Mas calados,mudos,
com olhos de espanto!
Eu os presenteio com o cheiro da minha dor,
dos meus desejos inconfessos,
minha nudez sangrenta...
Que fiquem vocês com a verdade!
Eu só quero a alma gentil...