DESPIR

Calem a boca!

Nem um pio! Silêncio!

Eu me dispo da verdade...

Por que me olham todos?

Por acaso sou digna de pena?

Sentem piedade,misericórdia?

Calem a boca seus idiotas,

covardes, rebanhos da verdade!

Eu já disse que me dispo da verdade...

Olhem meus olhos...

Estão vermelhos, não?

Será de ira,de ódio?

Já disse para calarem a boca

e não se aproximarem...

Eu me dispo da verdade...

Meus olhos choram por vocês

tão curiosos da dor alheia...

Meus olhos são escárnio

pela podridão das suas mansuetudes...

Abram as narinas e sintam

o ar fétido que exala de mim...

É o cheiro da essência...

Eu me dispo da verdade

e desvendo os arranhões...

Peguem os bisturis

e me destrinchem nas entranhas...

Arranquem as tripas, as artérias,

façam esguichar o sangue quente

nas suas caras imundas!

Peguem minhas veias trêmulas

e as engulam nas suas goelas...

Mas calados,mudos,

com olhos de espanto!

Eu os presenteio com o cheiro da minha dor,

dos meus desejos inconfessos,

minha nudez sangrenta...

Que fiquem vocês com a verdade!

Eu só quero a alma gentil...

carline
Enviado por carline em 19/08/2014
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