OUVIR
Consegue ouvir na minha voz
A minha dor?
E no meu grito?
Consegue ouvir o meu desespero?
Não é só a noite
que testemunha o uivo;
não só as estrelas
que escutam o meu apelo...
Elas já se apagaram
e a noite é longa
e a vontade infinita
e a esperança curta...
choro o choro amargo do pranto
dessa espera que não tem fim...
As palavras perderam o sentido
quando o desespero
passeia pelos jardins
daquilo que se manifesta como incógnito...
Podes sentir meu desespero,
tocar na minha agonia,
vibrar com as minhas chagas
e gozar com as minhas lágrimas?
Podes se tocar com a decepção,
se masturbar com o meu arrastar
desesperado em busca de ti
no som do sino suspenso no ar?
Consegue ouvir a minha busca
pelos infernos borbulhantes
como Orfeu encantado
confiante no seu troféu?
Escuta meu coração...
Ele te fala sussurrante
dos meus sonhos, meus desejos
procurando por ti!
Não precisa muito...
Sou uma mendiga apenas...
É tão pouco e pouco basta...
Uma atenção de ti!