PARA LEMBRAR

Que importa a ti se eu falo
na chuva que cai há três dias?
Falo daquilo que quero.
Escrevo o que tenho vontade.
Posso usar a primazia
de escolher o tema e a forma,
quebrando regras e normas,
usando um direito que é meu.

O meu poema vagueia
- voa, é nuvem,
ocupa o espaço.
É redemoinho de areia
atravessando a vidraça
sem estilhaços, nem dor.

Seria um poema de amor?
Certamente!
Eu digo e afirmo,
afirmo com muita razão.
Já nos dizia Quintana:
todos os poemas o são.



(vide "Se o Poeta falar num Gato" - Mario Quintana)



Se o poeta falar num gato, numa flor,
num vento que anda por descampados e desvios
e nunca chegou à cidade…
se falar numa esquina mal e mal iluminada…
numa antiga sacada… num jogo de dominó…
se falar naqueles obedientes soldadinhos de chumbo
que morriam de verdade…
se falar na mão decepada no meio de uma escada
de caracol…
Se não falar em nada
e disser simplesmente tralalá… Que importa?
Todos os poemas são de amor!