DIÁLOGO DA SAUDADE
DIÁLOGO DA SAUDADE
Surgiste como uma flor floresce
bem do meio de uma letra tonta
letra que dormia nos braços de uma poesia
encantada
E enquanto lenta sonolenta
espreguiçava-te,
despertava sutilmente
a mulher apaixonada
Não memorizei um só verso daqueles que grafaste
mas guardei os lábios das suas entrelinhas
Concentrei-me no essencial
Costurei o dorso
rasguei a bainha
E agora poesia,
por qual terras andas o teu subscritor?
Dispersou-te displicente
no coração alheio
Ignorou por acaso
que para galgar o amor
a poesia repele
o freio?
E agora poesia,
como respondes
a essa nostálgica indagação?
Por mais que escancare portas
Não foge a saudade
que pisoteia meu coração
Ah... dizes –me então em coro com o Pessoa
que o poeta é um fingidor
E com ares de sobriedade
acrescenta:
Nunca te deverias ter apaixonado!
Desculpe-me poesia,
mas pelo teu poeta
cruzaria oceanos
a nado
Nadaria por todas as suas tristezas
Mergulharia em suas decepções
Respiraria embaixo d água
todos os seus porões
Escreveria no abissal do mar
O cerne do seu sorriso
E por ele poesia,
tornaria-me também
Poeta sem juízo!