DIÁLOGO DA SAUDADE

DIÁLOGO DA SAUDADE

Surgiste como uma flor floresce

bem do meio de uma letra tonta

letra que dormia nos braços de uma poesia

encantada

E enquanto lenta sonolenta

espreguiçava-te,

despertava sutilmente

a mulher apaixonada

Não memorizei um só verso daqueles que grafaste

mas guardei os lábios das suas entrelinhas

Concentrei-me no essencial

Costurei o dorso

rasguei a bainha

E agora poesia,

por qual terras andas o teu subscritor?

Dispersou-te displicente

no coração alheio

Ignorou por acaso

que para galgar o amor

a poesia repele

o freio?

E agora poesia,

como respondes

a essa nostálgica indagação?

Por mais que escancare portas

Não foge a saudade

que pisoteia meu coração

Ah... dizes –me então em coro com o Pessoa

que o poeta é um fingidor

E com ares de sobriedade

acrescenta:

Nunca te deverias ter apaixonado!

Desculpe-me poesia,

mas pelo teu poeta

cruzaria oceanos

a nado

Nadaria por todas as suas tristezas

Mergulharia em suas decepções

Respiraria embaixo d água

todos os seus porões

Escreveria no abissal do mar

O cerne do seu sorriso

E por ele poesia,

tornaria-me também

Poeta sem juízo!

Conceição Castro
Enviado por Conceição Castro em 16/08/2014
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