Menino do Tabuleiro - Cândido Portinari, 1947



 
FOME

Criança invisível
de sorriso triste,
não sabe se existe.
Lava mais um carro,
recebe um magro trocado,
agita a flanela,
sua bandeira,

nem verde nem amarela,
leva para casa
a mesada
sucinta,
insuficiente,
diante
de tanta

boca faminta.
Oh, pátria amada,
hoje, tal como ontem,
não sobrou nada!

Apenas pobreza
 no prato, na mesa...
Sem pão
para matar a fome do corpo,
sem carinho para nutrir
o coração entristecido,

sem país e sem pais,
o menino se dá por vencido,

e uma vez mais,
chora e não dorme
pois mais uma noite
se deita com fome. 


Ana Flor do Lácio

 
Ana Flor do Lácio
Enviado por Ana Flor do Lácio em 15/08/2014
Código do texto: T4924318
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