Menino do Tabuleiro - Cândido Portinari, 1947
FOME
Criança invisível
de sorriso triste,
não sabe se existe.
Lava mais um carro,
recebe um magro trocado,
agita a flanela,
sua bandeira,
nem verde nem amarela,
leva para casa
a mesada
sucinta,
insuficiente,
diante
de tanta
boca faminta.
Oh, pátria amada,
hoje, tal como ontem,
não sobrou nada!
Apenas pobreza
no prato, na mesa...
Sem pão
para matar a fome do corpo,
sem carinho para nutrir
o coração entristecido,
sem país e sem pais,
o menino se dá por vencido,
e uma vez mais,
chora e não dorme
pois mais uma noite
se deita com fome.
Ana Flor do Lácio
Criança invisível
de sorriso triste,
não sabe se existe.
Lava mais um carro,
recebe um magro trocado,
agita a flanela,
sua bandeira,
nem verde nem amarela,
leva para casa
a mesada
sucinta,
insuficiente,
diante
de tanta
boca faminta.
Oh, pátria amada,
hoje, tal como ontem,
não sobrou nada!
Apenas pobreza
no prato, na mesa...
Sem pão
para matar a fome do corpo,
sem carinho para nutrir
o coração entristecido,
sem país e sem pais,
o menino se dá por vencido,
e uma vez mais,
chora e não dorme
pois mais uma noite
se deita com fome.
Ana Flor do Lácio