Casa

Quero as paredes escorridas de sangue

O fedor de cigarro e suas fumaças boêmias

As cinzas no chão e no teto

E quero o teto no chão

Quero todo o cheiro de nojo e todo o podre

Todas as cortinas rasgadas e o sol que não entra

A umidade, o mofo, o ácaro

O preto, o cinza e o bordô

Quero marcas de xícaras, xícaras manchadas

As manchas nos cantos e o amargo do café

Quero tudo enrugado, sépia

E tudo morto

Quero os enterros e suas lágrimas

Os estilhaços, cacos

Tudo jazido

Mortal

Quero a inércia do drama

O drama no espelho

O frio aqui dentro

E o sono no quarto

Quero minha ausência

O vazio, o eco, e, ah, as cinzas

Quero as bitucas

Os porta-retratos sem as fotos

Quero tudo entrevado e insone

Quero tudo carne e tempero

Salgado e sem gosto

Alcoolizado sem querer

A louça toda escarrada

E as vigas bêbadas e tortas

Tudo dormindo e querendo

Quero uma casa que não acorde

Quero-me casado

Kokoro
Enviado por Kokoro em 15/08/2014
Código do texto: T4924128
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