Casa
Quero as paredes escorridas de sangue
O fedor de cigarro e suas fumaças boêmias
As cinzas no chão e no teto
E quero o teto no chão
Quero todo o cheiro de nojo e todo o podre
Todas as cortinas rasgadas e o sol que não entra
A umidade, o mofo, o ácaro
O preto, o cinza e o bordô
Quero marcas de xícaras, xícaras manchadas
As manchas nos cantos e o amargo do café
Quero tudo enrugado, sépia
E tudo morto
Quero os enterros e suas lágrimas
Os estilhaços, cacos
Tudo jazido
Mortal
Quero a inércia do drama
O drama no espelho
O frio aqui dentro
E o sono no quarto
Quero minha ausência
O vazio, o eco, e, ah, as cinzas
Quero as bitucas
Os porta-retratos sem as fotos
Quero tudo entrevado e insone
Quero tudo carne e tempero
Salgado e sem gosto
Alcoolizado sem querer
A louça toda escarrada
E as vigas bêbadas e tortas
Tudo dormindo e querendo
Quero uma casa que não acorde
Quero-me casado