Poema para um Amor - VIII
E é assim que sempre me vens
no desdobrar do corpo,
no calor aveludado e sutil,
enquanto meus sonhos perdidos
encontram a mim e a ti.
Não posso imaginar outro momento
que não esse, que me envolve o olhar
quando meu desejo te invoca
e te fazes em mim,
precipício, loucura, suspiro e vertigem.
Não há qualquer gesto meu
que não te traga ao ardor da memória.
Deito-me aos meus pés
e abraço-me a tua ausência.
Em mim, a vaga esperança de que virás...
Mas é no além do possível,
quando dispo o véu das palavras
que meus passos mais me reconhecem.
Talvez acusem-me de delirante,
enquanto sussurro a minha saudade
nos corredores da insônia.
A anatomia dos meus versos
somente se sabe no contorno
das letras do teu nome.
Um dia chegará a manhã possível
e serás mais que todas as palavras
que alinho nos poemas
que talvez não leias.
Regressarás de onde nunca partiste.
© Fernanda Guimarães
www.fernandaguimaraes.com.br