INFÂNCIA

Quando eu era pequeno,

ainda sem saber ler,

o meu passatempo preferido

era ver revistas e jornais.

Meu pai no campo

cuidando do gado,

minha mãe na cozinha

cuidando do almoço,

e eu em casa

de pernas pro ar

fazendo de conta

que sabia ler.

Passava horas deitado no chão,

brincando com as folhas,

em preto e branco

e também coloridas,

das revistas e dos jornais.

Meus irmãos ganhavam o mundo.

Iam matar lagartixas,

cassar passarinhos,

pescar nos açudes,

subir nos pés de mangas

e de cajus do sítio...

Mas o que eu gostava mesmo

era de ficar em casa

contemplando e contemplando

as páginas incomunicáveis

das revistas e dos jornais,

deixados por um tio do Recife.

Olhava as figuras

e ria com elas,

ficava encantado

com aquele mundo diferente

que não conhecia.

Não imaginava

que naquilo tudo

já havia poesia.