No bolso do paletó abandonado
Insólito traje de dias passados
Um poema respira, abafado
Disforme
Amarrotado...
 
Amarelada folha de papel
Rios de letras negras, caligrafia
Esboçando do nada, a poesia
Caminho das Índias
Perdidas nos mapas de quem fui.

 
Já nem lembro qual descoberta
As linhas e rimas
Ora mortas
Sonhavam apontar...
Quiça puro ouro, sorrisos
De musas exatas, despertar....
 
O paletó já não me serve
Puído e sem cor, exangue
Na teia do tecido que repousa...
No fundo do bolso, traiçoeiro
O poema escorpião
Que crava ainda o veneno atrasado
No mesmo mortificado coração.