BEIRA DO RIO
Eu vivo à beira do rio,
e sorrio porque estou à beira do rio
e este meu sorriso rindo
são as águas do rio que me banham o riso.
Vivo à beira do rio
sem religião ou bússola,
sem tempo ou espaço
porque as horas são o rio.
A correnteza do rio
é meu corpo que flutua
e as folhas deste rio
são meus pensamentos que se enterram.
Moro à beira do rio
sem morais, definições ou conceitos...
Vivo apenas à beira do rio
tal como sou, sem alguém ser...
E na correnteza que passa
outra maré vem...
Tristeza, alegria, sonho...
Alguém que não é o seu ser...
Passo como a água,
escorrego como o limbo,
exalo como as folhas,
sinto como o Homem...
Vivo à beira do rio
sem direção ou tino...
Chovo quando chove,
esquento quando faz sol...
Quando anoitece... anoiteço,
Quando esfria... sinto frio,
Quando seca... me seco,
Quando há enchente... transbordo...
Vivo à beira do rio
que não existe já que vivo,
que não sente já que amo...
Vivo à beira do rio...