Minhas gavetas
Pequenas e pomposas
Da madeira mais real
De encanto elas são cheias
Brilho sutil e especial
Guardariam sem esforço
Coisas que podem ser minhas
Dentro ou fora de tempo
Se abririam com alegria
E eu assim seria rico
Uma riqueza singular
Possuindo nada e tudo
Tudo à quem considerar
Coisas concretas e abstratas
Improváveis e possíveis
Relevantes e ignoradas
Tendo em sobra e as sofríveis
Eu já comecei minha lista
Sem ordem de preferência
Em primeiro lugar fica
Do amor a sua essência
Um sorriso bem sincero
Melodia do piano
Um abraço do mais terno
Aquela árvore dançando
Guardaria o primeiro beijo
Quem sabe o primeiro olhar
As borboletas do estômago
Minha guinada ao te encontrar
O cheiro do pão quentinho
O vapor do café passado
A brisa do frio bem-vindo
O alívio de estar no quarto
E o elogio do labutar
A gratidão pelo carinho
Conselho por acreditar
Fruto ao ser concedido
Toda a parte aviária no alvorecer
Todo o brilho romântico do crepúsculo
Meu cochilo plausível do entardecer
Meu voo matutino naquele sonho
Descoberta de um novo amigo
Consumação da boa notícia
Surpresa do veterano
O gozo que tempera a vida
Corrimento de lágrimas doces
Liberdade e sensação de poder
Alarido dos conquistadores
Do ouro mais puro o coração se encher
A hora em que ao meu sentimento cedeu
Ou na que a declaração escapou
Quando estive face a face com Deus
Ou quando encontrei o meu Salvador
Minhas gavetas seriam só minhas
Seu conteúdo sou eu quem entendo
Quem quisesse criaria as suas
Nada e tudo ficaria retendo.