CHOVE

O mar está revolto

e chove e chove e chove...

Chove sangue no espírito,

chove pedra na matéria...

Chove nada e chove tudo...

Chove o amor de não amar,

chove a vida de não viver,

chove eu de não ser...

Chove tudo e chove nada...

O mar está revolto

nas ondas que vêm e que vão

dentro da minha emoção...

Chove a miséria da riqueza,

chove a riqueza da miséria,

chove o ódio do amor,

chove o frio do calor...

Chove nada e chove tudo

dentro do mar da esquina...

Solidão que nasce da morte,

Solidão que morre no nascer...

O mar está revolto

na atmosfera do meu ser,

na atmosfera do interior,

na atmosfera do morrer...

Chove tudo e chove nada

nas águas do mar que choram

lágrimas doces e lágrimas salgadas

na chuva de tudo e na chuva de nada...

Chove pedra e chove água,

chove suor e chove gozo

do êxtase do amor amar

no delírio de se deleitar...

Chove desejo e chove olhar

na vontade de se encontrar

na fusão de se copular...

chove macho e chove fêmea...

O mar está revolto

nas ondas que sorriem, que gargalham

e que se estrangulam no movimento

horizontal e periférico do momento...

Chove nada e chove tudo

no mundo, na vida, no ser...

Nada e tudo e tudo e nada...

O mar continua revolto...

Revolto nas ondas de mim

e dentro de mim e fora de mim...

Grita e sussurra e deseja

nada e tudo da chuva chuvosa...

Chove tudo e chove nada

e nunca chove e sempre chove...

Emoção de um momento

que revolta o mar do sentimento...

carline
Enviado por carline em 12/08/2014
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