CHOVE
O mar está revolto
e chove e chove e chove...
Chove sangue no espírito,
chove pedra na matéria...
Chove nada e chove tudo...
Chove o amor de não amar,
chove a vida de não viver,
chove eu de não ser...
Chove tudo e chove nada...
O mar está revolto
nas ondas que vêm e que vão
dentro da minha emoção...
Chove a miséria da riqueza,
chove a riqueza da miséria,
chove o ódio do amor,
chove o frio do calor...
Chove nada e chove tudo
dentro do mar da esquina...
Solidão que nasce da morte,
Solidão que morre no nascer...
O mar está revolto
na atmosfera do meu ser,
na atmosfera do interior,
na atmosfera do morrer...
Chove tudo e chove nada
nas águas do mar que choram
lágrimas doces e lágrimas salgadas
na chuva de tudo e na chuva de nada...
Chove pedra e chove água,
chove suor e chove gozo
do êxtase do amor amar
no delírio de se deleitar...
Chove desejo e chove olhar
na vontade de se encontrar
na fusão de se copular...
chove macho e chove fêmea...
O mar está revolto
nas ondas que sorriem, que gargalham
e que se estrangulam no movimento
horizontal e periférico do momento...
Chove nada e chove tudo
no mundo, na vida, no ser...
Nada e tudo e tudo e nada...
O mar continua revolto...
Revolto nas ondas de mim
e dentro de mim e fora de mim...
Grita e sussurra e deseja
nada e tudo da chuva chuvosa...
Chove tudo e chove nada
e nunca chove e sempre chove...
Emoção de um momento
que revolta o mar do sentimento...