POETA DE UMA LINHA SÓ

Eu, poeta de uma linha só,

Não caberei na gramática,

Mas, condenso toda árdua arte,

Cabendo em mim,

E assim...

Caibo em qualquer parte.

Eu, poeta de uma linha só!

Descalças são minhas palavras,

E tão firme, o silencio nos toma!

Não há palavras vestidas de sol,

Se os versos teimam em combater,

Incansável palavra; libertai os homens!

Eu, poeta de uma linha só!

Pequeno poeta,

Por menor que seja,

Sempre há um verso de dor,

Um verso como quem parir,

Um verso de cruz,

Um verso tão forte e estranho, que é tão nosso,

Um verso escondido na memória de cada um de nós!

Eu, poeta de uma linha só,

Canto minha cidade,

Não aprendi cantar as mulheres,

Canto minha cidade,

Onde ninguém nunca me leu,

E bêbadas ficaram minhas palavras nas ruas,

Sem mãos,

Sem bocas.

Nem o padre com sua batina negra, me leu!

Nem os políticos com seus argumentos, me leram!

Nem família, nem amigos...

Santos, loucos, bichos, plantas ninguém!

Eu, poeta de uma linha só,

Não caberei na gramática.

Embora, costurarei meu tempo,

Há uma palavra solta ainda no meu peito,

E moro tão fora de mim!

E não há palavras vestidas de sol,

Se os versos teima em combater.

Eu, poeta de uma linha só,

Não caberei na gramática,

Mas condenso toda árdua arte,

Cabendo em mim

E assim...

Caibo em qualquer parte!

Severino Filho
Enviado por Severino Filho em 12/08/2014
Reeditado em 15/09/2017
Código do texto: T4919556
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