NO CALAR DA NOITE
 
É uma cobra
Deslizando
O cobertor repuxa
Ao chão ouvindo
Mais do que deveria
Poder estar cobrindo
Aquece outro corpo
Que fica sentindo
Que o espaço
Está abrigado
De vultos constantes
Formam quadros
Que desenham
A imensidão da volúpia
No quarto
As paredes manchadas
De batom
O sangue dos lábios
Dela lambendo
Arranhando
dançando
A gata se muda
Do chão vira
A mulher inteira
Felina das madeixas
Que as tranças
Transam desfazem
Então lançam
P’ros lados
Tenho um deus coroado
Por trás me despindo
Pegue as rédeas
Que soltei
Não me deixe fugir
Apenas vou fingir
Que a dor me violenta.