O BRUXO DERRAMA A VERVE

(para José Moreira da Silva, mestre e oráculo)

Canto 01

A voz permeia o verso.

Sexo. Testosterona aos vinte anos.

Bebe-se água pura nos sapatos do tempo

donzelas soberanas ganham fôlego.

Noites de idas e vindas,

– que a semente era boa –

mascate de sonhos e de processos,

saem dele (e de mim ainda) energias

que movem o mundo.

Palavra sabe dos sinos

e no bimbalhar destes o som é mouco,

pouco para a necessária energia.

O mestre doutrina seus amores.

Trôpego, mimoso, é o carinho nos braços.

Pernambucanos abraços.

Amores vagos, tão jocosos,

enquanto nesta quadra quase octogenária

a razão escancara seus oráculos.

Somos cinco aprendizes de mãos dadas.

A energia vem com um chapéu de sombras

e se esgota

no pentágono de pálpebras chorosas.

Angulares os amores,

perdas são clavas mestras.

Esvai-se o cálice para além de meus

temores. Brinda-se o poeta.

E me sinto pronto para abortar os medos.

São tímidos cansaços (os nossos)

nestas raízes do ópio dos dias.

Declaro-me impotente sob todos os dardos

e não renego o sussurro das lembranças.

O hálito das esquinas consome a minha insânia.

Canto 02

Viemos de longe em novo tempo,

como os pregadores do Evangelho.

Sobre terras e mares debruça-se a oração.

Há um gozo que me colhe nos jardins,

rara consciência dos sossegos.

Águas turvas de amor e ódio,

o foco resiste denodadamente.

Ainda há luz sobre trevas,

e o olho energético pisca suas pálpebras.

Na mesa pentagonal de luzes,

o fio de prata costura a boca,

nos ritos de morte e vida.

Ainda há sonhos

e a mesma luz tropeça entre frestas

e aleluias.

Há espíritos dispersos

bebendo água nas cascatas.

O Cristo cruza a perna sobre o madeiro

e abençoa rosas vermelhas para os aflitos.

Do livro OVO DE COLOMBO. Porto Alegre: Alcance, 2005, p. 46:7. REVISADO.