Pleito do pé
Somos nós, os pés,
Que vos levam,
E toda vossa dignidade,
Em marchas, passeios ao ar livre
desfiles, danças e solenidades.
Em pé de igualdade com as mãos?
Não!
Pés calçados em rasteirinhas
Pés calçados num salto alto,
Num tênis, num sapato,
Pés descalços...
Que se apertam em bicos extremados
Ou que se espalham, bem confortáveis,
Pés que ninguém diz: Coitado,
O pobre está todo suado.
Mas dizem que é torto demais,
Fino que só, ou alongado,
Gordo e esparramado
E como se não bastasse,
Há quem fale do peito alto.
Desaforo!
Pé quase nunca tem elogio
Parece que nasceu pra ser criticado
Pelas moças, pelos moços...
Pelos ortopedistas e pedicuros
Ninguém pensa no pé, como pensa na mão
Um absurdo essa desigualdade...
Por que do pé, ninguém tem orgulho?
Mãos doam
Mas os pés as levam.
Mãos dizem adeus,
Mas os pés é que chutam pra longe
Os baldes, os paus das barracas...
Mas só lembram do pé
Quando chutam o canto da escada.
As mãos, recomeçam uma história
Mas é o pé que finalizou a anterior
E onde está nosso valor?
A recompensa por seus calos e serviços?
Tem trovinha sobre pé?
Tem poesia?
Tem homenagem?
Não é pé de vento,
Pé de valsa,
Nem pé de amora.
Mas queria...
Ser diferente por um dia
Nem que fosse
Pra ser um pé de prosa.
A conversa correndo
E eu, o pé,
Antes de ser um pé na cova,
Mergulhado Num leite de rosas...