AMANHECER DOS AMORES
Cantai, cantai!
O tempo é austero, cantai!
O viver é mudo: esvai-se o tempo
e a vida é um mero acontecer.
Tão duros aos ventos,
temos todos a ilusão do amar.
A solidão é canto sórdido,
o Bem e o Mal.
Somos apenas o espelho triste,
o poema e a maçã,
até o pecado nos roubar de todo.
Sacrílegos aos ventos de ver, ó vida,
seresteiros aturdem o coração pequeno,
passageiros do canto e do vinho.
Unhas de aço nas mãos de antigos arautos,
violões tecem loas, madrigais.
E a emoção é mais do que o cintilar
de despedidas e acenos.
Nada mais nos sabe a vida,
e é sempre claro
o amanhecer dos amores.
– Do livro OVO DE COLOMBO. Porto Alegre: Alcance, 2005, p. 38.
http://www.recantodasletras.com.br/poesias/49137