CHAGAS
As chagas estão se abrindo
por todos os meus poros...
E me perguntam onde dói
e eu não sei responder...
Porque me dói inteira,
dentro e fora de mim...
Emudeço em silêncio
sem nenhuma mordaça...
Vou fenecendo a matéria
que já não sente nada...
Criou casca das patas do cavalo
que se esqueceu da égua
na hora exata do acasalamento...
Dói tudo ao mesmo tempo
porque o coração não conhece distância
que não se divide em estações...
O passado é história
e o futuro um mistério...
O instante é já, é um agora
e o milagre o hoje...
Mas o frio vai penetrando
e estuprando a vontade...
Impala o desejo imperioso
de acreditar na possibilidade...
Vou amortecendo o caminho
que me levaria na roda gigante
que gira e roda e circula
até o céu da sua esquina...
Os bordéus me chamam
e gritam pela minha dor...
Lá moram lunáticos e patéticos
que crêem no milagre!
Houve instantes e momentos
de lucidez sonhadora
que a razão ultrapassou
no berimbau do suor...
Mas a doe me toma
e me derruba e me abusa
e me engravida de vazio,
gerando o pesadelo...
Feneço de dor
que me achata nos subterrâneos
de me saber aqui presente
desejando o poder ausente...