TRAFICANTE
Comprei todos os dias
minha dose diária
da droga fatal
das mãos de um traficante...
Nos encontrávamos todos os dias,
primeiro com calma, falantes...
Depois com mais pressa,em silêncio...
Nossos olhares falavam
e nossos silêncios dignificavam...
A droga foi rareando, escasseando
mas ainda me mantendo viva...
A blitz foi se intensificando
e a droga foi sumindo...
Como uma viciada alucinógina
meu corpo vacila...
Tremo compulsivamente
e me visto novamente
do meu casulo de muralha...
Me fecho nas grades
e arranho as paredes
para não machucar ninguém...
Minhas unham quebram
e minha pele sangra
e tento arrebentar os miolos nas paredes....
Quero rasgar o coração
para poder extirpar a dor
que estou sentindo...
Choro, grito, me bato no concreto
e arranho o meu orgulho despedaçado...
Preciso de uma dose para estancar
o desespero que me queda...
Rolo pelo chão, suo, descabelo,
falo alto, deliro, uivo...
As lágrimas caem pela face
e eu, nua, descoberta, sozinha,
me debato e me atiro no escuro de mim...
Que dor! Quero arrancar a dor!
Ultrapasso o limite do possível
e gemo para mim mesma...
Peço perdão, peço misericórdia,peço piedade...
Mas é só escuro, é só silêncio
dentro e fora de mim...
Cadê meu traficante?
Cadê o êxtase?
A droga do prazer
em forma de tesão...
Escuro labirinto da dor!
A profanação de mim mesma!
O reflexo do nada!
Traficante da ilusão!