CANTORIA II

CANTORIA II

Olha moço, vim de longe

Da terra dos cantadores,

Sentado nesta calçada

Alivio muitas dores...

Troquei de nome na estrada,

Pra “Sabiá do nordeste”,

E cantando rio abaixo

No rumo sempre do leste,

Deparei com as terras verdes

Decantadas do Sudeste!

Carrego em minha mochila

Saudades que nem mais sei,

Misturadas à poeira

Das estradas que passei...

Trago também rapadura,

Farinha, "carne de sol",

O aboio do boiadeiro

Cantingas ao por do sol....

Da dor que me encrava agora,

Descarto a que me amofina,

Vendo versos pro beltrano

Se interar da sua sina...

Neste mundão de cidade,

Cujo barulho amofina,

Tiro notas da viola,

Na dobra de cada esquina...

Cantador de profissão,

Narro estórias de santeiros,

Que brotaram do sertão

Se espalharam em Juazeiro...

Romeiros com suas rezas:

“Padinho Ciço” Romão,

Ou de outros santos guerreiros,

Como Antônio “Conselheiro”

E tantos outros “Antônios”,

Que merecem “tal recato”,

Que nem sei por que receita

Tornaram-se camuflados,

Apagando os pré-nomes

Com que foram batizados!

Não canto tristeza antiga

Que “pedrou” meu coração,

Nem tão pouco as alegrias

Nascidas com o algodão...

Canto só o dia a dia

Pro “cabra” infeliz que passa,

E cantarolo a agonia,

Desencantando a desgraça!

Entre pausas, correrias,

Voa o mundo a minha vista...

Passam ricos, medianos,

Fulanos e mais cicranos,

Bêbados e vigaristas,

Pisantes de todo tipo,

Povo triste sem pisantes,

Travestis e prostitutas,

Senador com sua amante!...

Dicotômica cidade,

Que enxergo neste instante,

Fartura de propagandas,

Anúncios a toda hora,

Brilhos de néon imensos,

Reclames de fora a fora

Piscando sobre pedestres

Quando o dia vai–se embora...!

No sertão já é diferente,

Riqueza pouco se vê,

Vale o brilho da palavra

Que entrelaça o SER do TER

Valorizando vontades,

Sedimentando um querer!...

Diachos, só não compreendo,

Fico "inté" sem entender,

Por que tem tantos famintos

Tanta gente a padecer,

Se a fartura anunciada

Contraria o querer...

Divide o “homus” em classe

E fora a parte, o PODER?!

( 04. 08. 2014 )

Ronaldo Trigueiros Lima

Versos em Redondilha maior.

RONALDO TRIGUEIROS LIMA
Enviado por RONALDO TRIGUEIROS LIMA em 04/08/2014
Reeditado em 07/08/2014
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