Depressa
Preciso correr!
Que a pressa tem pressa de ter pressa
E depressa me apressa a ter mais pressa
Que depressa a pressa me apressa.
Depressa! Preciso correr!
Que o tempo não me dá tempo
De ter tempo de não ter tempo
E a tempo sempre há tempo
De não ter tempo de correr contra o tempo.
Depressa! Preciso correr! Não há tempo!
Que o tempo me rouba o tempo de ter tempo!
Preciso correr depressa
Que a pressa me apressa a ter pressa
De me apressar a correr contra o tempo.
Preciso correr mais depressa,
Depressa! Que há pressa
Mas não há tempo...
Preciso parar de correr.
Não é preciso ter pressa.
Afinal, o norte é bem ali.
Bem ali é o horizonte.
O limite de todos os limites.
Sina ou sorte, há o corte.
Preciso parar de correr.
Porque essa pressa de viver,
Só faz me levar à morte.
E a morte vem sempre depressa,
Porque não tem onde nem quando,
Só tem a pressa que me apressa
A vontade expressa de não ter pressa.
Para que ter pressa?
Quando a morte vem a vontade cessa
E a chama acesa apaga. Agradeça!
Agora que nada mais nos apressa,
Agradeça antes que a vida padeça
E a morte venha nos levar depressa,
Que tudo que não existe quando cessa
É porque existia só aqui dentro da cabeça.
Então mate a vontade que não interessa
E tudo mais que dela nasce esqueça.
Mas esqueça bem mais que depressa
Antes que tudo comece a existir fora da sua cabeça.