Depressa

Preciso correr!

Que a pressa tem pressa de ter pressa

E depressa me apressa a ter mais pressa

Que depressa a pressa me apressa.

Depressa! Preciso correr!

Que o tempo não me dá tempo

De ter tempo de não ter tempo

E a tempo sempre há tempo

De não ter tempo de correr contra o tempo.

Depressa! Preciso correr! Não há tempo!

Que o tempo me rouba o tempo de ter tempo!

Preciso correr depressa

Que a pressa me apressa a ter pressa

De me apressar a correr contra o tempo.

Preciso correr mais depressa,

Depressa! Que há pressa

Mas não há tempo...

Preciso parar de correr.

Não é preciso ter pressa.

Afinal, o norte é bem ali.

Bem ali é o horizonte.

O limite de todos os limites.

Sina ou sorte, há o corte.

Preciso parar de correr.

Porque essa pressa de viver,

Só faz me levar à morte.

E a morte vem sempre depressa,

Porque não tem onde nem quando,

Só tem a pressa que me apressa

A vontade expressa de não ter pressa.

Para que ter pressa?

Quando a morte vem a vontade cessa

E a chama acesa apaga. Agradeça!

Agora que nada mais nos apressa,

Agradeça antes que a vida padeça

E a morte venha nos levar depressa,

Que tudo que não existe quando cessa

É porque existia só aqui dentro da cabeça.

Então mate a vontade que não interessa

E tudo mais que dela nasce esqueça.

Mas esqueça bem mais que depressa

Antes que tudo comece a existir fora da sua cabeça.

Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 04/08/2014
Reeditado em 09/01/2021
Código do texto: T4908711
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