FERA
Companheiro de todas as horas, de todos os dias
é meu sonho por ti!
Voz que grita mais que o som!
Arrebenta a artéria,
Circula nas veias,
se mistura ao sangue,
adormece o peito!
Em todos os caminhos se faz presente
e cruelmente machuca...
Que dor! Sufoca a garganta!
Empala as entranhas... Que dor!
Eternamente o saber que sempre saberá o que não saber...
Devoro-me insensivelmente e vorazmente,
abocanhando o corpo e a alma
como uma fera no cio da solidão!
Reprimo, massacro...
Vou ao fundo do poço,
mais baixo que o chão que se pisa...
A lama exala seu cheiro asqueroso
debaixo dos lençóis que a angústia cobrindo o frio...
Porco-espinho da agonia, carrapato da dor!
Se gruda ao corpo e rasga a carne!
Vejo dentes arreganhados e pontudos
atravessando o coração de angústia...
O horizonte aparece no delírio
e lá vejo o brilho do seu olhar,
que deita nas estrelas como um sonho...
Que dor! Ela se colou à cara,
matando e ressecando o agora...
És a porteira perversa da sedução!
Um escombro da sombra do que sou...
Que dor! Preciso de ar!
Tenho fome! Fome de blasfêmia!
Cadela faminta trepando com a alma,
bolinando com a carne que mata
o coração na teia arrasadora e devoradora...
carnificina de sangue que machuca a vontade...
ah! Como dói! Mais do que se pode aguentar!
Perversidade de vida no aqui e agora,
ciente da cachorra pedinte despudorada
da angústia que devora para ti!