DEVO
Devo piscar antes de ver, devo
lavar antes de comer, devo
pensar antes de falar menos, devo
tanto. Fechar antes de sair, abrir
se for permitido, lembrar o que escrevi no bilhete.
- onde estão as chaves?
Devo retribuir o sorriso, mas não devo falar com estranhos.
- fumar depois do sexo é clichê de cinema americano.
É tempo de construir, erguer andaimes. Arranha céus, bolsas
de valores em Nova York e Seul vazias.
Por toda parte há fome, as coisas agora têm fome.
Mesmo minha sombra anda a devorar o calcanhar distraído.
Passos rápidos e lépidos e ligeiros e disciplinados não levarão mais a lugar algum: nem onde, nem quando. Nunca desejaram sair, se para a firmeza do chão foram feitos e antes de caminhar estão.
De olhar as nuvens as guardo doces, e de amar tanto “apascento teus rebanhos”. A mim basta tombar para o lado a cabeça que releio a carta, teu bilhete memorando, a cena memorável de qualquer instante.
A fome volta a devorar as sombras, meu calcanhar não sente o chão. As sombras, a luz e a luz do dia com suas nuvens no céu de Seul no coração da América.
piscar antes de ver, devo
lavar antes de comer, devo
pensar antes falar menos, devo
tanto.